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O MITO DA TELHA FEITA NAS COXAS

Com esta pequenina e linda casa do século XVIII na Rua do Amparo, em Olinda, venho hoje desmentir mais um mito muito difundido em cidades históricas turísticas do Brasil: a telha feita nas coxas dos escravos.
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Muitos de vocês já devem ter ouvido e até falado a expressão "feito nas coxas" para descrever algo que foi feito nas pressas e saiu mal feito.
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Nas cidades históricas ainda se ouve gente espalhando a estória de que as telhas coloniais eram feitas nas coxas dos escravos, e que por isso elas tinham o formato "canoa" mais largo em uma ponta e mais estreito em outra. Pois isso é mais uma mentirinha, dessas contadas pra deixar a falar mais interessante e contar boas histórias para entreter turistas.
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Acontece que não existe em nenhuma cidade colonial do Brasil (nem em Portugal), prédio com telhas diferentes umas das outras, elas são padronizadas. As telhas coloniais eram feitas de forma artesanal em moldes de madeira, que possuíam variações de tamanho, onde eram também secadas ao sol. Imagine se um dono de escravos ia deixar eles dormindo horas no sol com uma telha em cada perna...
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Essas telhas do Brasil colônia tem em média 75 cm ou um pouco mais. Para que um escravo moldasse ela nas coxas, era preciso que ele tivesse a altura de 3,5m, isso mesmo. Ele teria que ser um boneco gigante de Olinda para ter uma coxa desse tamanho.
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Considerando pessoas de 1,80m, as telhas teriam cerca de 33cm, ridículo num telhado não é mesmo?
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O fato é que a expressão "feito nas coxas" tem provável origem sexual, surgida de relações rápidas e feitas às escondidas, em alguns casos para não perder a virgindade nem a honra, praticando o ato nas coxas, às escuras.
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As cidades históricas turísticas do Brasil, pra variar, criaram mais esse boato para enfeitar a narrativa de antigos guias, condutores e publicações, no intuito de tornar os lugares mais interessantes, fazendo surgir muitos boatos, como o da "eira, beira e tribeira", outra grande mentira compartilhada por aí.

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